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terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Jornal Estado de Minas: Contaminação por metais pesados ameaçam o Rio São Francisco

Por Flávia Ayer

Sinal de alerta na porção mineira do Rio São Francisco. Pesquisa do Instituto de Geociências da Universidade Federal de Minas Gerais (IGC/UFMG) aponta a contaminação de afluentes do Velho Chico por metais pesados, perigosos para o meio ambiente e a saúde do homem. No trecho mais crítico, em Três Marias, na Região Central do estado, as análises constataram que a presença dessas substâncias na água está 200 vezes acima do limite estipulado pela legislação. Nos sedimentos, como areia e argila, o problema também foi verificado. Embora a imensidão do São Francisco esteja, por enquanto, conseguindo diluir a poluição de seus tributários e se manter em boas condições, o estudo chama atenção parao tamanho do problema que está sendo carregado para um dos principais rios do país, que nasce em Minas Gerais.

Finalizada recentemente, a pesquisa analisou por oito meses, entre março de 2008 e janeiro de 2009, em 59 pontos da bacia do Alto São Francisco, os níveis de contaminação da água por alumínio, ferro, manganês, magnésio, além dos metais pesados zinco, cromo, cádmio, chumbo, níquel, cobalto, cobre e bário. Com cerca de 13 afluentes, o trecho, com extensão de 160 quilômetros, vai de Três Marias a Pirapora, no Norte de Minas, e abrange cerca de 15 municípios. É nas proximidades das áreas industriais e dos centros urbanos que o problema se concentra.

De acordo com a autora do estudo, a mestre em geografia Elizêne Veloso Ribeiro, pesquisadora do Núcleo de Geoquímica Ambiental do IGC/UFMG, as principais fontes de poluição são efluentes industriais e resíduos de atividades agrícolas. O grande vilão, segundo Elizêne, é o zinco, que castiga, principalmente, o córrego Consciência, em Três Marias, próximo à unidade da Votorantim, uma das maiores produtoras do metal. “Quando a antiga Companhia Mineira de Metais (CMM) se instalou, há 30 anos, não havia procedimento para tratamento do resíduo. Hoje, não há liberação direta do zinco, mas a área acumula um grande passivo ambiental”, explica, ressaltando que o quadro em Pirapora, onde se concentram indústrias têxteis e metalúrgicas, também merece atenção.

A situação se agrava pelo fato de que os índices de qualidade da água adotados pelo Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) não levam em conta parâmetros relacionados a metais pesados. Elizêne explica que, no monitoramento da água, são considerados apenas fatores como oxigênio dissolvido, coliformes fecais, turbidez, sendo que a quantidade de metais pesados é analisada à parte. “No Brasil, ainda não tem um sistema que englobe metais pesados. Nossa ideia é incluir a análise no índice de qualidade da água, principalmente em locais contaminados. Na região pesquisada, os problemas são pontuais, mas os órgãos públicos têm que manter monitoramento mais intenso e adotar ações preventivas.”

Postos de lado das estatísticas ambientais, os metais pesados representam um grande risco para a saúde das populações ribeirinhas. “São elementos com grande toxidade tanto para o ambiente aquático quanto para o homem. Além de ter efeito cancerígeno, trazem danos ao sistema nervoso. E, depois que entram na cadeia alimentar, não saem mais”, alerta a pesquisadora.

 Aterro e barragem de rejeitos da Votorantim Metais, próximo à represa de Três Marias. Ecologistas denunciam passivo ambiental da empresa.

Problema adormecido

Junto da análise da água, o Núcleo de Geoquímica Ambiental do IGC/UFMG também investigou a contaminação de sedimentos encontrados na calha do São Francisco e de seus afluentes pelas 12 substâncias. De acordo com o geógrafo Wallace Magalhães Trindade, que cuidou dessa parte do estudo, areia, argila e demais materiais encontrados nos cursos d’água também escondem um perigo em potencial. “O problema é que, se o sedimento tem metal pesado, ele se torna uma fonte de contaminação constante para a água”, afirma.

O pesquisador encontrou nas amostras de sedimentos poluição entre 10 e 15 vezes maior que o previsto na legislação. “Enquanto o permitido é a concentração de 315mg/kg de zinco, encontramos 6 mil mg/kg”, conta, lembrando que um complicador é o fato de que, entre as 12 substâncias analisadas, a legislação brasileira fiscaliza apenas seis.

Publicado no Jornal Estado de Minas em 07/02/2011 às 06:24 horas.

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