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terça-feira, 30 de junho de 2015

SOS Paleoantropologia no Brasil!!!

O MAC publica aqui uma carta assinada pelo Prof. Walter Neves, da Universidade de São Paulo. Cada pessoa que se importa com o patrimônio cultural arqueológico de nossa região, que enxerga no museu uma proposta de futuro e cidadania, deveria separar um pouco de seu tempo e ler essa carta com muita atenção.

Citando apenas um fato, dentre tantos outros não menos importantes, o Laboratório de Estudos Evolutivos Humanos da USP dedicou o tempo de sua equipe e seu espaço de trabalho, em um estudo voluntário dos restos ósseos de um sepultamento pré-histórico, que fora escavado em um abrigo sob rocha, no Morro da Menina, zona rural do Município de Pains - MG. Posteriormente, o mesmo laboratório custeou uma datação radiocarbônica do esqueleto em um laboratório dos Estados Unidos. A datação foi feita a partir de um pequeno fragmento do osso do braço do indivíduo. Ela revelou que essa pessoa morreu há 7.500 anos.

Este sepultamento arqueológico se configura como um dos mais antigos registros materiais de cremação da América do Sul. Recentemente, o Prof. Walter Neves, que coordena o Laboratório, autorizou o envio destes restos esqueletais para a sede do MAC, no município de Pains, retornando o material arqueológico para sua região de origem. A datação e curadoria deste sepultamento fez parte da amostra de pesquisa de uma dissertação de Mestrado e de uma tese de Doutorado, que foram defendidos no Museu de Arqueologia e Etnologia da USP, e que hoje podem ser consultados por qualquer pessoa, através da internet, no banco de teses e dissertações da USP.

"Estudos de evolução humana na USP estão ameaçados de extinção

O Laboratório de Estudos Evolutivos Humanos (LEEH), do Departamento de Genética e Biologia Evolutiva do IB-USP, foi por mim criado em 1994. Até hoje é o único laboratório da América do Sul a pesquisar a evolução humana sob uma perspectiva paleoantropológica, portanto, interdisciplinar por definição. Nossa pesquisa de maior destaque refere-se a Luzia, a primeira americana, que se tornou o ícone da pré-história brasileira. Hoje, o Laboratório desenvolve mais de dez projetos de pesquisa em parceria com diversas instituições do Brasil e do exterior. Recentemente, deu início a um projeto paleoantropológico na Jordânia, buscando nossos ancestrais que há 2 milhões de anos se expandiram da África para o Oriente e para a Europa. Essa é a primeira vez que cientistas brasileiros estabelecem um projeto paleoantropológico fora do país.
 
O LEEH-USP também se dedica freneticamente à divulgação do conhecimento da evolução humana para o público leigo, numa cruzada significativa contra a expansão do criacionismo no país. Entre essas atividades destaca-se a exposição “Do macaco ao homem”, recentemente implantada no Catavento Cultural, financiada pelo CNPq e pelo próprio Catavento, que consumiu recursos da ordem de um milhão de Reais. O LEEH também é o fiel depositário junto ao IPHAN e ao IBAMA de coleções arqueológicas e paleontológicas referentes aos primeiros americanos, destacando-se aí a maior coleção de esqueletos desses primeiros colonizadores do continente. Possui ainda uma infraestrutura física invejável, que não deixa nada a dever a instituições congêneres no exterior. Nos últimos dez anos só a FAPESP injetou cerca de dois milhões de dólares nessa infraestrutura e nos projetos que desenvolvemos.
  
Mas tudo isso está ameaçado de extinção. Com minha aposentadoria em futuro próximo não há a menor possibilidade de que seja contratado um docente para assumir o laboratório. Isto se deve a duas razões complementares: por um lado, a reitoria atual não está provendo novas vagas de docente e por outro, mesmo que ela o faça, nada garante que o Departamento de Genética e Biologia Evolutiva aloque essa vaga para a área da Antropologia Biológica. O departamento é majoritariamente constituído por geneticistas humanos, grupo de excelência, mas que têm enorme dificuldade de entender que nossa área envolve três campos do conhecimento: antropologia, arqueologia e biologia evolutiva. Esse é o preço real que se paga na USP por ser de fato interdisciplinar.

Se você se simpatiza com minha causa, por favor envie mensagens para:

Marco Antônio Zago / Reitor da Universidade de São Paulo

Vahan Agopyan / Vice-reitor da Universidade de São Paulo
 
Luis Neto / Chefe do Departamento de Genética e Biologia evolutiva
Só a pressão social poderá evitar que o Brasil perca esse patrimônio material e imaterial que foi construído a duras penas nos últimos 25 anos.
  
Ass.: Walter Neves, Professor Titular (waneves@ib.usp.br)"
  

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