Modelo 3D - Cálice funerário Jê

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Uma doação Semilunar


O MAC tem recebido doações de materiais arqueológicos regularmente. Via de regra são cidadãos que visitam a exposição e que desejam contribuir para a preservação do patrimônio arqueológico. Mais de 80% das doações são artefatos de rocha polida, machados ou mãos de pilão, encontrados na maior parte das vezes por trabalhadores na lida diária do campo.
Todas estas doações são preciosas e são um importante retorno da comunidade regional ao trabalho de divulgação científica empreendido pelo MAC. Algumas são especiais e, ainda que isoladas, elevam a preciosidade de nosso acervo. Foi o caso de um belo exemplar de um machado semilunar, cuja lâmina tem a forma de uma meia lua.
É um artefato de grande apelo estético e alto valor científico, pois está inserido em um restrito grupo de tipos de artefatos arqueológicos que podem ser vinculados a determinadas famílias lingüísticas do tronco Macro-Jê. O MAC possui apenas outro artefato semelhante, encontrado no município de Iguatama – MG.
O machado foi encontrado pelo Sr. Sandrino Rodrigues, em sua propriedade no município de Formiga. O MAC foi ao local do achado, em uma caverna calcária, e constatou a presença de um diversificado registro arqueológico, na forma de fragmentos de vasilhames cerâmicos, estruturas de combustão e artefatos líticos polidos. Foi elaborado um relatório técnico e preenchida a ficha de registro do sítio arqueológico, denominado Semilunar, estes documentos foram encaminhados à 13ª. SR. IPHAN para serem integrados ao Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos (CNSA).


Sabemos por fontes escritas, iconográficas e orais que tais artefatos tinham um grande valor cerimonial para vários grupos falantes de línguas da família Jê e do tronco lingüístico Macro-Jê. Um exemplo recente são os Krahô ou Mehim, do nordeste do Estado do Tocantins. Julio César Melatti, antropólogo da Universidade de Brasília (UNB) relata a luta deste grupo por reaver um machado semilunar que integrava o acervo do Museu Paulista:

" [Os Krahô] em 1986 empenharam-se em uma reivindicação (...) de terem de volta o machado de pedra de lâmina semilunar que haviam cedido ao Museu Paulista havia muitos anos. Depois de muita discussão com a direção da Universidade de São Paulo (sob cuja jurisdição está o Museu), debates pelos jornais e resolução de impasses jurídicos, o machado foi devolvido. O interessante de tudo isso é que, para aqueles Krahô que mostraram o machado a Julio Cezar Melatti ao passarem por Brasília, levando-o de volta para a aldeia, ele já não era mais um dos muitos machados arqueológicos que os índios encontravam no chão, pondo-lhes novos cabos, ornamentos e pinturas: ele era o machado por excelência, aquele que no longínquo passado cantava, conforme um de seus mitos, o machado com que haviam matado o chefe dos Cokãmkiere, um povo mítico, conforme outra de suas narrativas."

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