Fonte: Ascom/Iphan
Tradições, folclore, alimentação e habitações. Índios, jesuítas, tropeiros, garinpeiros. O sertanejo, o vaqueiro e o cangaceiro. Todos eles, e muitos outros, se banharam e beberam das águas cristalinas do rio São Francisco que, segundo descreve Auguste de Saint-Hilaire em Viagem às Nascentes do Rio São Francisco (Paris, 1847), nasce como “um belo lençol de água branca e espumosa que se expande lentamente e (...) desce por uma encosta escarpada para formar o famoso Rio S. Francisco, que tem quase 700 léguas de extensão e recebe uma infinidade de outros rios”. As nascentes ficam na Serra da Canastra, município de São Roque de Minas, no sul de Minas Gerais, e dão origem ao Rio da Integração Nacional, que deixa passa ainda pela Bahia e por Pernambuco, até chegar à sua foz, no Oceano Atlântico, entre Alagoas e Sergipe.
Além dos recursos econômicos e da garantia de sobrevivência para toda essa população, o rio São Francisco produziu também um rico legado cultural expresso pela diversidade e pelo simbolismo próprio. Nos últimos três anos, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - Iphan realizou um amplo trabalho de pesquisa e inventário de conhecimento do patrimônio cultural ao longo do rio São Francisco, revelando um vigoroso panorama da paisagem cultural e natural expresso em unidades de conservação ambiental que revelam a força dos biomas de Mata Atlântica, Cerrado e Caatinga; na extensão do seu patrimônio arqueológico; na riqueza arquitetônica de bens do período colonial ou da art déco e eclética; no patrimônio naval e ferroviário; e na singularidade de manifestações culturais, das festas religiosas e saberes populares.
Esse trabalho será apresentado, no auditório da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba – Codevasf, em Petrolina, Pernambuco, nos próximos dias 14 e 15 de junho de 2011, no Seminário do Patrimônio Cultural do Rio São Francisco. O Iphan vai promover o debate das ações conjuntas de proteção e preservação com instituições federais, empresas públicas, governos e órgãos estaduais e municipais, associações, e organizações não governamentais em um encontro que será fundamental para a troca de experiências e pactuação de esforços para a preservação da enorme riqueza cultural e natural do rio São Francisco.
O rio São Francisco e a história do Brasil
Os navegantes André Gonçalves e Américo Vespúcio chegaram à foz do rio São Francisco em 4 de outubro de 1501 dando início à exploração portuguesa da bacia sanfranciscana pela extremidade nordestina, em caravela comandada por Gonçalo Coelho. Eles chegaram ao estuário do grande Opará (rio-mar, em Tupi-Guarani) que recebeu seu nome atual em homenagem ao santo festejado naquele dia: São Francisco.
As primeiras expedições datam de 1553, com a busca por escravos para as cidades litorâneas. Após o incentivo da Coroa Portuguesa, com a doação de territórios, visando à colonização e à ocupação de novas áreas, o povoamento se intensificou e com ele a atividade pastoril. Data, também, desse período a construção dos primeiros engenhos de açúcar, que utilizavam mão-de-obra de índios escravizados. Os jesuítas aliavam seus conhecimentos aos dos indígenas para construir embarcações e habitações. Com os missionários capuchinhos, deixaram marcas históricas que formaram um importante patrimônio cultural.
Desde a primeira vez que um colonizador entrou em suas águas, outros diversos nomes foram atribuídos ao rio: Velho Chico, rio da integração nacional, rio da unidade nacional (liga o Brasil do Sudeste até o Nordeste), além dos que se perderam no passado. O rio se estende por 2,7 mil quilômetros da nascente à foz, atravessa cinco estados, em direção ao norte e em suas margens estão dezenas de cidades e vilas. Sua importância deve-se ao grande volume de água que transporta para a região semi-árida do Nordeste, e à sua contribuição histórica e econômica na fixação das populações ribeirinhas, além da criação de diversas cidades.
O rio São Francisco é navegável numa extensão de 2 mil quilômetros. As barcas desciam os rios afluentes carregadas de produtos da terra, alcançavam o São Francisco - subiam para Pirapora ou desciam para Juazeiro - e retornavam com produtos industrializados. Rapadura, banha de porco, algodão, peles silvestres, aguardente e muitas outras mercadorias saíam dos locais de produção, enquanto dos grandes centros retornavam café, querosene, álcool, gasolina, além da correspondência com notícias das capitais e de outras comunidades. Produziam e viviam no vale, os barranqueiros, pescadores, agricultores, posseiros, meeiros ou pequenos proprietários, em convivência, nem sempre pacífica, com o grande fazendeiro e senhor político dos municípios. Atualmente, a navegação no rio São Francisco caracteriza-se pela baixa movimentação de cargas e passageiros, e não há perspectiva de que recupere a importância do passado.
Apesar de toda a riqueza de textos, documentos, iconografias e obras de ficção, o inventário do Iphan revela o patrimônio natural deteriorado e o patrimônio histórico e cultural descaracterizado, disperso ou submerso nas águas das represas formadas ao longo do rio São Francisco. O agravamento desse quadro deve-se, em sua quase totalidade, à concentração de renda que persiste e comprova o enriquecimento de determinados segmentos sociais. O objetivo do Iphan com o trabalho desenvolvido nos últimos anos é resgatar o que for possível e pactuar ações para impedir o perda do patrimônio cultural e natural da região, valorizando suas características e promovendo a integração com a população local.
Serviço:
Seminário do Patrimônio Cultural do Rio São Francisco
Data: 14 e 15 de junho de 2011
Local: Auditório da Codevasf
Rua Presidente Vargas, 160 – Centro - Petrolina - PE
Mais informações
Assessoria de Comunicação Iphan
comunicacao@iphan.gov.br
Adélia Soares – adelia.soares@iphan.gov.br
(61) 2024-6187 / 2024-6194
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Programação
Dia 13/06 – segunda-feira
Trânsito de Chegada
Dia 14/06 – terça-feira
Manhã
Abertura
Apresentação dos participantes
Apresentação do Inventário do Patrimônio Cultural do Rio São Francisco, realizado pelo Iphan.
Tarde
Debate sobre ações de proteção e preservação dos acervos do São Francisco. Formulação conjunta dos Acordos de Pactuação ou Termos de Cooperação entre as entidades e participantes.
Noite
Programação cultural
Dia 15/06 – quarta-feira
Manhã
Debate final e Aprovação dos Acordos de Pactuação. Encerramento.
Tarde
Trânsito de Saída.
Publicado na página do IPHAN em 03/06/2011