Gustavo Werneck
Montanhas, planícies e vales guardam tesouros que fazem de Minas um gigantesco sítio arqueológico – a céu aberto, nas cavernas e grutas ou ainda à espera de descoberta. Para mostrar, pela primeira vez, parte desse patrimônio que encanta os olhos e fortalece a cultura, será lançado, em agosto, em São João del-Rei, no Campo das Vertentes, um mapa elaborado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) localizando 1.053 pontos com a presença de pinturas rupestres, urnas funerárias indígenas, cerâmicas, artefatos de pedra e outros vestígios da atividade humana no período pré-colonial. O mais impressionante é que o número se refere a apenas 2% do potencial mineiro, segundo o autor do trabalho e gestor do patrimônio arqueológico do Iphan, o mestre em geografia Alexandre Delforge. Uma referência dessa impressão digital dos primórdios da humanidade está em Andrelândia, na Região Sul, onde um grupo de amigos comprou um pedaço de terra para preservar a Serra de Santo Antônio e seu acervo, datado de cerca de 3,5 mil anos.
Andrelândia
Há 25 anos, seis jovens amigos juntaram dinheiro e, em vez de fazer uma grande festa ou viajar para o exterior, preferiram seguir um caminho mais nobre, que até hoje rende bons frutos para Andrelândia, na Região Sul de Minas, a 280 quilômetros de Belo Horizonte. Na época, contando também com apoio moral e financeiro de moradores, o grupo fundou o Núcleo de Pesquisas Arqueológicas do Alto Rio Grande (NPA) e comprou 12 hectares, algo em torno de 12 campos de futebol, a seis quilômetros da sede do município. Com a atitude, os amigos conseguiram preservar a área na qual estão impressas, num paredão da Serra de Santo Antônio, 650 pinturas rupestres de aproximadamente 3,5 mil anos. Totalmente a salvo de ameaças – fogo, fumaça, erosão, corte de árvores nativas, pichações, invasão de gado e atos de vandalismo –, os registros nas cores vermelha, amarela e branca ficaram ainda mais protegidos depois da criação do Parque Arqueológico da Serra de Santo Antônio, uma reserva particular do patrimônio natural (RPPN) reconhecida pelo Ibama, e do tombamento municipal. Hoje, a região é um dos destaques do Mapa do Patrimônio Arqueológico de Minas Gerais, feito pelo Iphan, que demandou seis anos de trabalho.
As “bodas de prata” entre homem e natureza no Sul do estado merecem comemoração à altura, acredita o arquiteto José Marcos Alves Salgado, um dos pioneiros na luta para preservar o patrimônio da Serra de Santo Antônio, variante da Serra da Mantiqueira, com altitude de 1.393 metros. Conselheiro do NPA, organização não governamental mais antiga de Minas com foco na proteção arqueológica, José Marcos se mostra entusiasmado com o presente e o futuro da unidade de conservação. “Nosso desejo é que este local seja visitado pela comunidade, principalmente estudantes, e por turistas de todas as idades. Aqui há muito para ser visto e fazemos um trabalho de educação ambiental. Ninguém mais deixa lixo ou sujeira no chão”, afirma, certo de que, quanto maior for o número de visitantes, mais a área estará protegida.
Os outros cinco conselheiros do NPA – Gilberto Pires de Azevedo, Cláudio Alves Salgado, Giovani Andrade Alves, Marcos Paulo Souza Miranda e Francisco Carlos de Azevedo –, com profissões diversas e residentes em outras cidades, são sempre muito presentes nas decisões, segundo José Marcos. “Com essa data e resultados tão bons, precisamos realmente fazer uma festa e reunir todos. Temos um parque delimitado e não sofremos nenhum risco, o que é raro”, orgulha-se. Mensalmente, o caixa da entidade ganha um reforço, com os seus 25 integrantes depositando no banco uma contribuição.
Publicado no Estado de Minas em 12/06/2011 07:33
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