Em 20 de outubro passado o MAC participou do Projeto Educar, na cidade de Pains - MG. Ele consiste em um programa de Educação Patrimonial que é sugerido aos municípios de Minas
Gerais pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e
Artístico (IEPHA/MG). A adesão do município de Pains foi feita pela Secretaria Municipal de Educação e Cultura, aonde é coordenado pela educadora Renata de Paula. São várias as ações realizadas ao longo desse ano de 2015: aulas introdutórias, palestras temáticas sobre patrimônio cultural local, votação da comunidade para eleger um tema de estudo (clique aqui), visita a bens culturas do município, realização de feira de cultura, etc.
A participação do museu foi no sentido de reforçar a importância do
patrimônio cultural arqueológico identificado e estudado no sítio
arqueológico Gruta do Marinheiro que, apesar de estar na zona rural do município de Pimenta, fica muito próximo ao Distrito da Vila Costina, que por sua vez fica na zona rural do município de Pains. O arqueólogo do MAC, Gilmar Henriques, juntamente com a educadora Renata de Paula, montaram uma palestra com o tema: "O que é patrimônio cultural, porque conhecer e cuidar?".
Ela foi apresentada no Colégio Estadual Pe. José Venâncio, pela manhã e pela tarde, a estudantes do Ensino
Médio e Fundamental, e que são moradores no Distrito da Vila Costina.
Depois das palestras, cada grupo de estudantes participou de uma visita
guiada à exposição permanente do MAC, intitulada "Pré-histórica do Carste do Alto São Francisco:
12.000 anos a serem desvendados", aonde puderam conferir as 70 pontas
de flecha coletadas em escavações na Gruta do Marinheiro.
A Gruta do Marinheiro é um sítio arqueológico multicomponencial, que ocupa uma cavidade natural situada no topo de uma colina suave, em cujo flanco afloram formações rochosas de calcário, no vale do Ribeirão dos Patos, zona rural do município de Pimenta - MG. Ele tem cerca de 700 m² de área abrigada, além de zonas a céu aberto e condutos subterrâneos. É o maior sítio pré-cerâmico da região do Carste do Alto São Francisco. Foram escavados 20 m² de sua superfície, resultando em dezenas de milhares de peças líticas - ferramentas e refugo de atividades de lascamento de rochas variadas - dois sepultamentos humanos secundários, ossos de animais, amostras de solo arqueológico e carvões.
A Gruta do Marinheiro guarda ainda uma preciosidade: um painel de arte rupestre composto por gravuras pré-históricas. As gravuras foram produzidas pela ação percussiva, contínua e puntiforme de um cinzel de pedra, ou alguma ferramenta do tipo, resultando em figurações lineares, "abstratas", em baixo relevo. Não há datações diretas para tais gravuras, mas, geralmente, registros semelhantes, conhecidos no Estado de Minas Gerais, são atribuídos a grupos caçadores-coletores muito antigos (clique aqui e aqui). Sendo assim tais gravuras podem ter milhares e milhares de anos de idade. É um registro arqueológico muito raro. Para se ter uma ideia, em todo o Carste do Alto São Francisco, ao longo de 1.500 km², é conhecida apenas uma dezena de sítios arqueológicos com presença de arte rupestre indígena.
Clique na imagem para ampliar. 4. Painel com arte rupestre da Gruta do Marinheiro. 5 e 6. Contém gravuras, figuras lineares, feitas em baixo relevo, utilizando a técnica do picoteamento. |
Datações radiocarbônicas da Gruta do Marinheiro. |
O local parece ter sido um ponto de produção, acabamento e, talvez, troca de artefatos entre grupos caçadores coletores do período Arcaico. A coleção de pontas de projétil, encontradas no local denotam esmero técnico, pode se dizer que algumas delas exigiram um verdadeiro trabalho de lapidação, para que atingissem propriedades de simetria e balística que fossem satisfatórias.
Depois de ter sido estudado por um projeto de Mestrado e outro, de Doutorado, ambos desenvolvidos pelo arqueólogo Edward Koole, no Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (MAE-USP), todo o acervo arqueológico coletado na Gruta do Marinheiro foi guardado no Museu Arqueológico do Carste (MAC), em Pains. A coleção de pontas de projétil passou por uma curadoria e foi integrada à exposição permanente do museu, e atualmente pode ser vista diariamente pelo público.
Para saber mais:
KOOLE, Edward.
Entre as tradições planálticas e meridionais... Tese de doutorado. São Paulo: MAE/USP, 2014. 416 p. (Para acessar clique aqui)
Pré-História da província cárstica do Alto São Francisco, Minas Gerais: a indústria lítica dos caçadores-coletores arcaicos. Dissertação de Mestrado. São Paulo: MAE/USP, 2007. 156 p. (Para acessar clique aqui)
Entre as tradições planálticas e meridionais... Tese de doutorado. São Paulo: MAE/USP, 2014. 416 p. (Para acessar clique aqui)
Pré-História da província cárstica do Alto São Francisco, Minas Gerais: a indústria lítica dos caçadores-coletores arcaicos. Dissertação de Mestrado. São Paulo: MAE/USP, 2007. 156 p. (Para acessar clique aqui)
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