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sexta-feira, 20 de novembro de 2015

MAC participa do Projeto Educar em Pains

Em 20 de outubro passado o MAC participou do Projeto Educar, na cidade de Pains - MG. Ele consiste em um programa de Educação Patrimonial que é sugerido aos municípios de Minas Gerais pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (IEPHA/MG). A adesão do município de Pains foi feita pela Secretaria Municipal de Educação e Cultura, aonde é coordenado pela educadora Renata de Paula. São várias as ações realizadas ao longo desse ano de 2015: aulas introdutórias, palestras temáticas sobre patrimônio cultural local, votação da comunidade para eleger um tema de estudo (clique aqui), visita a bens culturas do município, realização de feira de cultura, etc.

Clique na imagem para ampliar. A educadora Renata de Paula faz uma apresentação a estudantes da Vila Costina, discutindo as noções de patrimônio cultural e a importância do patrimônio cultural de Pains para seus moradores.

A participação do museu foi no sentido de reforçar a importância do patrimônio cultural arqueológico identificado e estudado no sítio arqueológico Gruta do Marinheiro que, apesar de estar na zona rural do município de Pimenta, fica muito próximo ao Distrito da Vila Costina, que por sua vez fica na zona rural do município de Pains. O arqueólogo do MAC, Gilmar Henriques, juntamente com a educadora Renata de Paula, montaram uma palestra com o tema: "O que é patrimônio cultural, porque conhecer e cuidar?". Ela foi apresentada no Colégio Estadual Pe. José Venâncio, pela manhã e pela tarde, a estudantes do Ensino Médio e Fundamental, e que são moradores no Distrito da Vila Costina. Depois das palestras, cada grupo de estudantes participou de uma visita guiada à exposição permanente do MAC, intitulada "Pré-histórica do Carste do Alto São Francisco: 12.000 anos a serem desvendados", aonde puderam conferir as 70 pontas de flecha coletadas em escavações na Gruta do Marinheiro.


Clique na imagem para ampliar. Localização do sítio arqueológico Gruta do Marinheiro, na região da Vila Costina, no vale do Ribeirão dos Patos, zona rural do município de Pimenta - MG, no território do Carste do Alto São Francisco. Modificado do Google Earth e Wikimedia Foundation.

Clique na imagem para ampliar. Mapeamento da Gruta do Marinheiro, na qual podem ser vistas as respectivas localizações das escavações arqueológicas e do painel de gravuras rupestres. O mapa foi feito por espeleólogos da cidade de Pains, desenho de Fabrício Hendrigo.
 
A Gruta do Marinheiro é um sítio arqueológico multicomponencial, que ocupa uma cavidade natural situada no topo de uma colina suave, em cujo flanco afloram formações rochosas de calcário, no vale do Ribeirão dos Patos, zona rural do município de Pimenta - MG. Ele tem cerca de 700 m² de área abrigada, além de zonas a céu aberto e condutos subterrâneos. É o maior sítio pré-cerâmico da região do Carste do Alto São Francisco. Foram escavados 20 m² de sua superfície, resultando em dezenas de milhares de peças líticas - ferramentas e refugo de atividades de lascamento de rochas variadas - dois sepultamentos humanos secundários, ossos de animais, amostras de solo arqueológico e carvões.
 
Clique na imagem para ampliar. 1. Escavações arqueológicas na zona abrigada da Gruta do Marinheiro. 2. e 4. Praticamente todas as pontas de flecha líticas foram encontradas nos setores Sul e Norte da Escavação 3 (Esc. 3). 3. Todo o sedimento foi cuidadosamente peneirado para resgatar pequenos vestígios arqueológicos.
 
A Gruta do Marinheiro guarda ainda uma preciosidade: um painel de arte rupestre composto por gravuras pré-históricas. As gravuras foram produzidas pela ação percussiva, contínua e puntiforme  de um cinzel de pedra, ou alguma ferramenta do tipo, resultando em figurações lineares, "abstratas", em baixo relevo. Não há datações diretas para tais gravuras, mas, geralmente, registros semelhantes, conhecidos no Estado de Minas Gerais, são atribuídos a grupos caçadores-coletores muito antigos (clique aqui e aqui). Sendo assim tais gravuras podem ter milhares e milhares de anos de idade. É um registro arqueológico muito raro. Para se ter uma ideia, em todo o Carste do Alto São Francisco, ao longo de 1.500 km², é conhecida apenas uma dezena de sítios arqueológicos com presença de arte rupestre indígena.

Clique na imagem para ampliar. 4. Painel com arte rupestre da Gruta do Marinheiro. 5 e 6. Contém gravuras, figuras lineares, feitas em baixo relevo, utilizando a técnica do picoteamento.
  

Datações radiocarbônicas da Gruta do Marinheiro.
Praticamente a totalidade das pontas de flecha líticas, coletadas na Gruta do Marinheiro, provêm das PartesSul e Norte da Escavação 3 (Esc. 3) - , em uma faixa estratigráfica que vai desde a superfície até 70 cm de profundidade. A maior parte das pontas foi encontrada nas camadas estratigráficas mais profundas do sítio arqueológico, que foram datadas em mais de 9.000 anos "antes do presente" (AP).

O local parece ter sido um ponto de produção, acabamento e, talvez, troca de artefatos entre grupos caçadores coletores do período Arcaico. A coleção de pontas de projétil, encontradas no local denotam esmero técnico, pode se dizer que algumas delas exigiram um verdadeiro trabalho de lapidação, para que atingissem propriedades de simetria e balística que fossem satisfatórias.

Depois de ter sido estudado por um projeto de Mestrado e outro, de Doutorado, ambos desenvolvidos pelo arqueólogo Edward Koole, no Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (MAE-USP), todo o acervo arqueológico coletado na Gruta do Marinheiro foi guardado no Museu Arqueológico do Carste (MAC), em Pains. A coleção de pontas de projétil passou por uma curadoria e foi integrada à exposição permanente do museu, e atualmente pode ser vista diariamente pelo público.

Clique na imagem para ampliar. Depois de passarem por um trabalho de curadoria e análise tecno-tipológica, as pontas de flecha foram guardadas no MAC, aonde passaram por um processo de musealização, hoje elas estão expostas ao público na exposição permanente do museu. Imagem da esquerda extraída de Koole, 2007.

Para saber mais:
KOOLE, Edward.
Entre as tradições planálticas e meridionais... Tese de doutorado. São Paulo: MAE/USP, 2014. 416 p. (Para acessar clique aqui)
Pré-História da província cárstica do Alto São Francisco, Minas Gerais: a indústria lítica dos caçadores-coletores arcaicos. Dissertação de Mestrado. São Paulo:
MAE/USP, 2007. 156 p. (Para acessar clique aqui)
     

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