Publicado na Folha.com em 07/03/2012 - 10h16
REINALDO JOSÉ LOPES
EDITOR DE "CIÊNCIA E SAÚDE"
Até quem tem dificuldade em encarar a apimentada comida mexicana provavelmente enche seu prato com uma dádiva do México todos os dias. Trata-se do feijão (Phaseolus vulgaris).
É o que mostra um estudo na edição eletrônica da revista científica "PNAS", no qual o DNA de mais de uma centena de variedades de feijão foi comparado, em busca de pistas sobre a história da leguminosa mais consumida no Brasil e no mundo.
Até agora, arqueólogos e botânicos apostavam nos Andes como o berço do feijão, inferindo que, a partir da cadeia de montanhas, a planta teria sido levada tanto rumo ao norte, para a América Central e do Norte, quanto na direção sul, no Brasil.
Clique na imagem para ampliar. Editoria de Arte/Folhapress. |
Os Andes são um centro conhecido de origem de plantas domésticas importantes - a batata é originalmente uma iguaria andina. Mas havia evidências conflitantes apontando para o México no caso do feijão comum.
Para tirar essa dúvida, a equipe liderada por Roberto Papa, do Conselho de Pesquisa Agrícola da Itália, examinou cinco regiões do DNA de formas selvagens da planta.
Em geral, quando um ser vivo se espalha de uma região do planeta para outra, as áreas para onde ele vai abrigam menos diversidade genética do que as áreas de origem. É o caso do ser humano: os africanos são mais diversos geneticamente que os europeus, por exemplo.
DEZ MAIS
Foi essa diversidade aumentada (dez vezes maior), bem como a semelhança entre as linhagens andinas e as mexicanas, que apontou para o México como centro de origem da planta.
Um pesquisador brasileiro confessou à Folha ter ficado "muito feliz" com os resultados da nova pesquisa. Afinal, Fábio Oliveira Freitas, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, já havia identificado um possível elo dos feijões nativos do Brasil com o México e a América Central.
O dado veio à tona quando Freitas analisou amostras de feijão de um sítio arqueológico do norte de Minas Gerais, datadas de algum momento do século 17. Um gene desses feijões tinha mais semelhanças com a versão desse gene em amostras mexicanas.
Freitas explica que, embora os dados se refiram a formas selvagens do feijão, o mais provável é que as plantas tenham vindo do México para a América do Sul com um empurrãozinho humano.
"Principalmente nas fases iniciais da domesticação, é fácil a planta voltar para o estado selvagem", explica. "Um grupo indígena pode plantar uma roça e abandoná-la, o que favoreceria esse evento."
Freitas, porém, relativiza os achados, lembrando que a diversidade genética atual do feijão pode não ser um retrato preciso da origem da planta há milhares de anos.
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Veja a terceira parte do documentário "Genoma Humano" exibido pela TV Escola:
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