Duas pesquisas arqueológicas reexaminam dentes pré-históricos encontrados na Europa e sugerem que o homem moderno chegou ao continente antes do que se pensava e conviveu pelo menos cinco milênios com os neandertais.
Por: Sofia Moutinho
Por: Sofia Moutinho
Dentes de homens modernos encontrados em cavernas na Itália e na Inglaterra contam uma história diferente sobre a chegada dos ancestrais de nossa espécie à Europa. Novas datações desses ossos feitas por dois grupos independentes de pesquisadores mostram que o Homo sapiens já estava no continente há 45 mil anos, pelo menos cinco mil anos antes do que indicavam as mais antigas evidências arqueológicas existentes.
Em um dos dois estudos – ambos publicados hoje (2/11) no site da revista Nature –, pesquisadores liderados pelo arqueólogo Stefano Benazzi, da Universidade de Viena, na Áustria, reexaminaram dois dentes de leite escavados na Gruta do Cavalo, na Itália, em 1964.
Os fósseis foram encontrados junto a ornamentos e ferramentas típicas do homem moderno, mas, com base em análises morfológicas rudimentares feitas à época, foram atribuídos aos neandertais que habitavam a região, conhecidos como Ulluzzian.
Novos métodos de escaneamento digital, feitos por meio de microtomografia computadorizada, permitiram que os pesquisadores criassem um modelo tridimensional dos dentes para uma análise mais detalhada.
As estruturas internas e externas dos dentes pré-históricos foram comparadas com os dentes de humanos modernos e os pesquisadores concluíram que eles eram mesmo de Homo sapiens e não de Homo neanderthalensis.
Em um dos dois estudos – ambos publicados hoje (2/11) no site da revista Nature –, pesquisadores liderados pelo arqueólogo Stefano Benazzi, da Universidade de Viena, na Áustria, reexaminaram dois dentes de leite escavados na Gruta do Cavalo, na Itália, em 1964.
Os fósseis foram encontrados junto a ornamentos e ferramentas típicas do homem moderno, mas, com base em análises morfológicas rudimentares feitas à época, foram atribuídos aos neandertais que habitavam a região, conhecidos como Ulluzzian.
Novos métodos de escaneamento digital, feitos por meio de microtomografia computadorizada, permitiram que os pesquisadores criassem um modelo tridimensional dos dentes para uma análise mais detalhada.
As estruturas internas e externas dos dentes pré-históricos foram comparadas com os dentes de humanos modernos e os pesquisadores concluíram que eles eram mesmo de Homo sapiens e não de Homo neanderthalensis.
Como os dentes eram muito pequenos, não foi possível fazer a datação diretamente deles. Mas pesquisadores da Universidade de Oxford, na Inglaterra, usaram a técnica de datação de carbono em conchas encontradas no mesmo nível que os ossos para estimar a idade dos fósseis, chegando ao resultado de 43 a 45 mil anos.
A descoberta, além de provar que o Homo sapiens já estava na Europa há mais de 40 mil anos, quando os neandertais ainda não haviam sido extinguidos, indica que os Ulluzzian eram, na verdade, homens modernos.
Antes da nova pesquisa, os arqueólogos acreditavam que os Ulluzzian formavam um grupo mais evoluído de neandertais por causa dos artefatos complexos encontrados nos seus sítios arqueológicos, como ornamentos de conchas, corantes e ferramentas feitas de ossos.
“Quando, há 50 anos, os dentes foram identificados como sendo de neandertais, os Ulluzzian passaram a ser considerados uma cultura de transição, o que levou alguns arqueólogos a acreditarem que os neandertais eram mais desenvolvidos do que se pensava e que haviam atingido um amadurecimento cultural antes dos homens modernos ou que haviam copiado comportamentos dos Homo sapiens”, explica Benazzi, líder do estudo. “Agora, mostramos que não era nada disso e que os neandertais nunca tiveram o mesmo nível de comportamento simbólico que a nossa espécie.”
Convivência entre espécies
No segundo estudo, arqueólogos liderados por Thomas Higham, da Universidade de Oxford, também refizeram a datação de um fóssil: um pequeno pedaço de mandíbula humana, contendo três dentes, encontrada na Caverna de Kent, na Inglaterra, em 1927.
Assim como aconteceu com os dentes de leite encontrados na Itália, não foi possível datar os dentes ingleses com amostras diretas, pois eles não contêm mais colágeno e estão contaminados com a cola usada para preservá-los – motivo que levou os pesquisadores a duvidarem da idade de 34 mil anos estabelecida em 1989 para os fósseis.
A nova datação, feita a partir de ossos de animais encontrados no mesmo nível arqueológico, acusou uma idade entre 41 e 44 mil anos. Os pesquisadores encontraram nos dentes 13 das 16 características básicas atribuídas aos dentes dos Homo sapiens, indicando que eram muito provavelmente de homens modernos.
No entanto, outras três características dentais eram compatíveis com dentes de neandertais. Esse resultado corrobora pesquisas recentes que indicam que as duas espécies acasalaram. Um sequenciamento do genoma neandertal, feito no ano passado por uma equipe internacional, mostrou que cerca de 4% do DNA do homem moderno tem origem nesses hominídeos, extintos há 30 mil anos.
Os dois estudos mostram que os neandertais podem ter convivido com os homens modernos por mais de cinco mil anos. Para os pesquisadores, isso é motivo para lançar novos olhares sobre a arqueologia. “É uma descoberta muito significante e mostra que temos que reinterpretar muitas das nossas visões sobre esse período”, afirma Thomas Higham.
Sofia Moutinho
Ciência Hoje On-line
A descoberta, além de provar que o Homo sapiens já estava na Europa há mais de 40 mil anos, quando os neandertais ainda não haviam sido extinguidos, indica que os Ulluzzian eram, na verdade, homens modernos.
Antes da nova pesquisa, os arqueólogos acreditavam que os Ulluzzian formavam um grupo mais evoluído de neandertais por causa dos artefatos complexos encontrados nos seus sítios arqueológicos, como ornamentos de conchas, corantes e ferramentas feitas de ossos.
“Quando, há 50 anos, os dentes foram identificados como sendo de neandertais, os Ulluzzian passaram a ser considerados uma cultura de transição, o que levou alguns arqueólogos a acreditarem que os neandertais eram mais desenvolvidos do que se pensava e que haviam atingido um amadurecimento cultural antes dos homens modernos ou que haviam copiado comportamentos dos Homo sapiens”, explica Benazzi, líder do estudo. “Agora, mostramos que não era nada disso e que os neandertais nunca tiveram o mesmo nível de comportamento simbólico que a nossa espécie.”
Convivência entre espécies
No segundo estudo, arqueólogos liderados por Thomas Higham, da Universidade de Oxford, também refizeram a datação de um fóssil: um pequeno pedaço de mandíbula humana, contendo três dentes, encontrada na Caverna de Kent, na Inglaterra, em 1927.
Assim como aconteceu com os dentes de leite encontrados na Itália, não foi possível datar os dentes ingleses com amostras diretas, pois eles não contêm mais colágeno e estão contaminados com a cola usada para preservá-los – motivo que levou os pesquisadores a duvidarem da idade de 34 mil anos estabelecida em 1989 para os fósseis.
A nova datação, feita a partir de ossos de animais encontrados no mesmo nível arqueológico, acusou uma idade entre 41 e 44 mil anos. Os pesquisadores encontraram nos dentes 13 das 16 características básicas atribuídas aos dentes dos Homo sapiens, indicando que eram muito provavelmente de homens modernos.
No entanto, outras três características dentais eram compatíveis com dentes de neandertais. Esse resultado corrobora pesquisas recentes que indicam que as duas espécies acasalaram. Um sequenciamento do genoma neandertal, feito no ano passado por uma equipe internacional, mostrou que cerca de 4% do DNA do homem moderno tem origem nesses hominídeos, extintos há 30 mil anos.
Os dois estudos mostram que os neandertais podem ter convivido com os homens modernos por mais de cinco mil anos. Para os pesquisadores, isso é motivo para lançar novos olhares sobre a arqueologia. “É uma descoberta muito significante e mostra que temos que reinterpretar muitas das nossas visões sobre esse período”, afirma Thomas Higham.
Sofia Moutinho
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