Durante cinco dias, indígenas de quatro etnias do Parque do Xingu (MT) compartilharam saberes sobre roças e cuidados com a terra na aldeia Tuiararé.
Preocupados com o futuro de suas roças, indígenas das etnias Yudja, Kawaiwete (Kaiabi), Ikpeng e Kĩsêdjê se reuniram de 28/09 a 02/10, na aldeia Tuiararé, dos Kawaiwete, para uma longa conversa sobre cuidados com a terra e manutenção das roças. Durante o evento, os índios trocaram sementes, ensinaram e aprenderam o manuseio de novas espécies, plantaram e comeram produtos das roças do Parque do Xingu (MT).
Preocupados com o futuro de suas roças, indígenas das etnias Yudja, Kawaiwete (Kaiabi), Ikpeng e Kĩsêdjê se reuniram de 28/09 a 02/10, na aldeia Tuiararé, dos Kawaiwete, para uma longa conversa sobre cuidados com a terra e manutenção das roças. Durante o evento, os índios trocaram sementes, ensinaram e aprenderam o manuseio de novas espécies, plantaram e comeram produtos das roças do Parque do Xingu (MT).
Milho, feijão fava e cará expostos em peneiras tradicionais |
O “Encontro de Trocas de Sementes e Mudas e de Conhecimentos sobre os Alimentos das Roças Tradicionais dos Índios do Xingu” foi idealizado pelos jovens dessas etnias durante um processo de formação realizado pelo Instituto Socioambiental (ISA) focado no reconhecimento e na valorização de iniciativas socioambientais locais. “Esse resgate dos alimentos é muito importante, pois quem não tem comida, não tem saúde. Eu quero que todas as comunidades indígenas tenham esses alimentos. Quero chegar em outras aldeias e que tenha comida pra todos”, diz Yaiku Kĩsêdjê.
A ideia surgiu após uma pesquisa realizada pelo grupo de jovens, na qual foi identificada que as roças estavam ficando pobres, e que muitos recursos haviam sido perdidos em suas comunidades. Parte desse processo, apontam os índios, se deve ao contato com o “branco” e as demandas que passaram a surgir desde então. “Eu estou plantando, mas não consigo cuidar direito [da roça]. E quando a gente está à frente de algum assunto importante para o nosso povo, a gente acaba sendo chamado e não tem tempo para cuidar da roça direito”, diz Tariaiup Kaiabi.
Sistematização dos produtos da roça Kawaiwete (Kaiabi) |
Jovens definem suas responsabilidades
Durante o encontro, os jovens apresentaram os resultados do levantamento que fizeram sobre a diversidade das roças de suas aldeias, definiram suas responsabilidades e encaminharam estratégias de curto prazo para o processo de resgate, manutenção e da constante reinvenção de suas culturas. Juntas, as quatro etnias trouxeram mais de 120 produtos para a troca. Entre eles, mandioca, cará, batata-doce, milho, urucum, amendoim, feijão-fava, açafrão, inhame, algodão, abóbora, melancia, banana, cabaça, mamão e abacaxi. Cada grupo saiu satisfeito por ter “recuperado” alguma semente que estava faltando no seu roçado.
Preparo tradicional de alimentos realizado durante o encontro. |
Na cozinha foram feitos variados tipos de comida. No cardápio: mingau de macaxeira, jacaré assado, mingau de arroz, caldo de peixe, cará cozido, castanha de caju, suco de mel, mingau de pequi, pequi cozido, pirão de peixe com feijão fava, feijão fava cozido, caju in natura, abacaxi in natura, beiju de polvilho, beiju tradicional dos Kawaiwete, mimosek (beiju de massa de mandioca com amendoim assado na folha de bananeira) e pimenta. Foi o começo de uma importante discussão para esses jovens que estão vendo os recursos e conhecimentos indo embora com os velhos, que, segundo eles, são os “cuidadores” das sementes e alimentos. “Quando os velhos vão embora parece que as sementes e plantas vão embora com eles. Parece que quando essas pessoas que cuidavam delas começam a enfraquecer e adoecer, as plantas também vão ficando doentes, junto com os seus cuidadores. As plantas dão o sinal”, conta Chico Kaiabi. “Nas histórias de todos nós, as plantas da roça vieram da ‘pessoa’. Por isso elas também sentem as pessoas”, completa Jepoo’i Kaiabi, lembrando a ligação intrínseca dos alimentos com as histórias da origem de cada etnia.
O desafio posto é o de lidar com o tempo do jovem, que precisa aprender o “trabalho de branco” para compreender e ajudar seu povo e ao mesmo tempo aprender e praticar as rotinas da sua cultura. Para cultivar esse resgate, os jovens entenderam que o encontro precisa continuar e ser ampliado aos demais povos do Xingu. Definiram que todos que participaram deste evento deverão levar o que foi plantado e colhido a partir da semente trocada no próximo encontro, como uma comprovação do esforço de cada grupo para a manutenção das espécies compartilhadas. Além disso, viram a importância de discutir o acesso à terra boa para o plantio, os impactos do fogo e as estratégias de prevenção.
ISA, Katia Ono.
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