Modelo 3D - Cálice funerário Jê

quinta-feira, 31 de março de 2011

Um dia joguem minhas cinzas na corrente desse rio

Nelson Angelo é um compositor mineiro que abordou os temas relacionados aos indígenas brasileiros como poucos foram capazes de fazer. Alquimista, transformou antropologia em poesia. A canção abaixo integra o álbum duplo Clube da Esquina 2, clássico que encerra a fase de Milton Nascimento na gravadora EMI-Odeon.



Testamento

Composição : Nelson Angelo e Milton Nascimento

Um dia joguem minhas cinzas
Na corrente desse rio
E plantem meu adubo
Na semente de meu filho
Cuidem bem de minha esposa
Do amigo, do ninho
E do presente que foi prometido
Pro ano seguinte

Na reserva desse índio
Clamo forte por clareira
Soprem meus sentidos
Pela vida que descubro
Cuidem bem de minha casa
Tão cheia, meninos
Tome conta de aquilo tudo
Em que acredito

Juntem todas minhas cinzas
Ao poema desse rio
E plantem meu adubo
Na semente de meu povo
Cuidem bem de minha esposa
Do amigo, do ninho
E do presente que foi prometido
Pro ano seguinte

Na reserva desse índio
Clamo forte por um rio
Soprem meus sentidos
Pela vida de meu filho
Cuidem bem de minha casa
Tão cheia, meninos
Tome conta de aquilo tudo
Em que acredito
E juntem todas minhas cinzas
Ao poema desse povo

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Promessas do Sol

Cientistas da Inglaterra traçam morte violenta durante Idade do Ferro

Crânio de aproximadamente 2500 anos foi encontrado com material cerebral preservado

SÃO PAULO - Um homem da Idade de Ferro, cujo crânio e cérebro foram descobertos durante escavações realizadas pela Universidade de York, na Inglaterra, foi vítima de um assassinato macabro, aponta uma nova pesquisa. Os cientistas afirmam que as fraturas e as marcas nos ossos sugerem que o homem, com idade entre 26 e 45 anos, provavelmente morreu por enforcamento, foi decapitado e teve sua cabeça enterrada juntamente com o corpo. A pesquisa foi publicada no Journal of Archaeological Science.
Universidade de York
Arqueólogos descobriram os restos mortais em 2008 e foram surpreendidos com o material cerebral ainda presente no crânio, de cerca de 2500 anos atrás, tornando-o um dos cérebros remanescentes mais antigos da Europa. Uma equipe de cientistas, incluindo arqueólogos, químicos, bio-arqueólogos e neurologistas, foi montada para tentar entender como o cérebro do homem pode ter "sobrevivido" por tanto tempo.
A equipe também investiga os detalhes da morte e do sepultamento, que podem ter contribuído para a sobrevivência dos tecidos moles, normalmente muito vulneráveis. Apesar de o hábito de guardar cabeças como troféus ter sido desenvolvido na Idade do Ferro e também na Idade do Bronze, os pesquisadores acreditam que não há evidências do ritual neste caso. Também não foram encontrados marcadores que indiquem uma preservação intencional, como o embalsamento.
Desde a descoberta, o cérebro o crânio têm sido mantidos conservados em condições controladas. Os cientistas examinaram amostras utilizando equipamentos sofisticados, como um aparelho de tomografia computadorizada do hospital de York.
Os estudos histológicos apontam restos de estruturas de tecido cerebral com presença de lipídios e proteínas específicas do cérebro. A equipe agora investiga se a combinação destas substâncias pode ter propiciado a conservação do material encontrado.
Vista do sítio arqueológico
Publicado no Estadão em 28 de março de 2011 | 21h 12
Mais informações aqui

quarta-feira, 30 de março de 2011

Intervenção em sítios espeleológicos

MPMG - Permissão de órgãos para intervenção em sítios espeleológicos só com anuência do Ibama e do ICMBio

Enviado por Prestjur, sex, 18/03/2011 - 10:39

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais (MPE) e o Ministério Público Federal (MPF) recomendaram na última segunda-feira, 14, às Superintendências do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) em Minas Gerais que continuem a exigir suas manifestações prévias de anuência para a intervenção em qualquer bem espeleológico (grutas, cavernas, lapas, dolinas etc) existente em Minas Gerais. Foi também recomendado à Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) que determine a todos os órgãos integrantes do Sisema que exijam a prévia anuência dos órgãos federais em todo e qualquer processo de licenciamento ambiental para empreendimentos potencialmente impactantes do patrimônio espeleológico brasileiro.
Segundo os promotores de Justiça de Defesa do Meio Ambiente e Patrimônio Cultural Carlos Eduardo Ferreira Pinto, Marcos Paulo de Souza Miranda e Paulo César Vicente de Lima, e a procuradora da República Mirian Moreira Lima, após a edição da Resolução Conama 428, em 20 de dezembro de 2010, que revogou dispositivos da Resolução Conama 347/2004, surgiu entre o empresariado a tese de que o Ibama e o Icmbio não precisariam mais fazer a análise técnica para anuir ou não com atividades causadoras de impacto ao patrimônio espeleológico.
Entretanto, segundo os membros dos Ministérios Públicos, tal tese não se sustenta, uma vez que existem outros dispositivos legais que impõem a necessidade de manifestação dos órgãos federais sobre qualquer atividade que interfira nos bens espeleológicos, que são considerados patrimônio da União e integrantes do patrimônio cultural brasileiro, segundo disposto na Constituição Federal vigente.
Foi fixado o prazo de dez dias para resposta dos órgãos sobre o acatamento ou não da recomendação.

Patrimônio de relevo
A atuação em defesa do patrimônio espeleológico existente em Minas Gerais, segundo o coordenador da Promotoria Estadual de Defesa do Patrimônio Cultural e Turístico do Estado, promotor de justiça Marcos Paulo de Souza Miranda, precisa ser eficiente e diferenciada, pois existem cadastrados atualmente 2.284 sítios no território mineiro, o que corresponde a mais de um terço do total brasileiro.
As áreas de ocorrência de cavidades naturais subterrâneas são de fundamental importância para a preservação de aspectos atinentes ao meio ambiente natural, uma vez que os ambientes cavernícolas em muitos casos armazenam água, sendo úteis na recarga de aqüíferos, rios subterrâneos e lençóis freáticos, garantindo o abastecimento de populações; abrigam espécies animais ou vegetais endêmicas e ameaçadas de extinção; protegem minerais raros e formações de grande beleza cênica.

Ação de inconstitucionalidade
Tramita perante o Supremo Tribunal Federal desde março de 2009 a Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 4218, ajuizada pela Procuradoria-Geral da República com o objetivo de declarar inconstitucionais dispositivos do Decreto 6640/2008, que permitiu a destruição de cavidades naturais subterrâneas no Brasil, matéria que somente poderia ser tratada por lei, segundo entendimento do Ministério Público.
Segundo dados da Sociedade Brasileira de Espeleologia, se a inconstitucionalidade do Decreto 6640/2008 não for reconhecida pelo Supremo Tribunal Federal, 70% das cavernas brasileiras correm o risco de desaparecer, o que constitui uma ameaça sem precedentes ao meio ambiente e ao patrimônio cultural do país.
A Adin está sob apreciação do ministro Luiz Fux, que assumiu a Relatoria em substituição ao ministro Eros Grau dia 9 de março deste ano.

Fonte: MPMG 

terça-feira, 29 de março de 2011

Semana de Arqueologia


Enviado por Kazuo Tamanaha

Os alunos do programa de pós-graduação em Arqueologia da Universidade de São Paulo têm o prazer de convidar os estudantes, profissionais da área e demais interessados para a “II Semana de Arqueologia” que ocorrerá na Universidade de São Paulo, entre os dias 30 de Maio e 03 de Junho de 2011.
O evento, em sua segunda edição, é uma articulação dos estudantes das várias áreas de pesquisa do MAE-USP no intuito de fornecer contribuições à Arqueologia, Etnologia e Museologia, como ciências interdisciplinares, em amplo desenvolvimento no Brasil nas últimas décadas.
A semana de arqueologia tem como objetivos o debate, a troca de informações e experiências, alem de ser um momento atualização para estudantes, pesquisadores e profissionais, almejando fomentar a divulgação e a consolidação das áreas.
Contando com convidados brasileiros e estrangeiros de renomadas instituições, que estarão presentes em palestras e mesas redondas temáticas, a “II Semana de Arqueologia” também contará com uma Mostra para divulgar a produção audiovisual em Arqueologia no Brasil. As participações poderão ser feitas por meio de apresentações em comunicações, exposição de painéis, inscrição de vídeos e comparecimento como ouvinte.

Informações:
http://www.semanadearqueologia.com/

semanadearqueologia.maeusp@gmail.com 
bina_tatiana@yahoo.com.br

MAIA - Mostra Audiovisual Internacional em Arqueologia

MAIA - Mostra Audiovisual Internacional em Arqueologia, em sua primeira edição, será realizada de 30 de maio a 03 de junho de 2011 na sala de exibição do CINUSP, Universidade de São Paulo, campus da capital.

MAIA não é um evento competitivo e sim uma Mostra Audiovisual aberta para todos os diretores, produtores audiovisuais, pesquisadores, grupos de pesquisa e estudantes que atuam em arqueologia e no campo do patrimônio cultural no Mundo; mas tambem para todos aqueles que, em suas obras audiovisuais, compreendam a arqueologia como meio possível para se abordar temas e contextos relacionados à história, à antropologia, à arte, por exemplo.

A Mostra Audiovisual Internacional em Arqueologia abre a tela do CINUSP para produções audiovisuais de diversas experiências em arqueologia no Mundo, em especial no Brasil. A Mostra terá sessões acompanhadas por debates com a presença de arqueólogos, documentaristas, produtores audiovisuais e educadores, constituindo-se um novo canal de diálogo e troca entre experiências no universo da arqueologia, aproximando-a do publico. MAIA está aberta à difusão de obras relacionadas à arqueologia, em sua amplitude de estudo e atuação.

Estão abertas as inscrições. Leia o regulamento e inscreva-se! A data limite para enviar seu documentário é 20 de abril de 2011. Não perca! Info: www.usp.br/cinusp e http://maiatv.org/

The first edition of MAIA - International Film Festival on Archaeology, from 30th may to 03rd june 2011, takes place at CINUSP, University of Sao Paulo, Brazil.

MAIA is not a competitive event, but an audiovisual event open to directors, producers, students and research groups working in archeology and in the field of the cultural heritage around the World; and also for all those who understand archeology as a way, for instance, of approaching contexts and themes on history, antropology, and the arts. MAIA is an open Film Festival to the diffusion of audiovisual works related to archeology, in its breadth of studies and activities.

Inscriptions are now open. Read the regulation and sign up! Deadline for submitting your work is April 20, 2011. Do not miss!
Info: www.usp.br/cinusp and http://maiatv.org/

Novo capítulo da pré-história americana

Artefatos encontrados em sítio arqueológico no Texas (EUA) confirmam suspeitas recentes de que as Américas foram povoadas muito antes do que se pensava. Cerca de 2,5 mil anos separam o velho do novo “começo” da história do continente.

Por: Carolina Drago

Descobertas arqueológicas recentes estão prestes a reescrever um capítulo da pré-história das Américas. Um rico conjunto de artefatos encontrado no Texas foi datado por pesquisadores dos Estados Unidos como pertencente a um período de 15 mil anos e meio atrás. O achado contraria o modelo corrente, segundo o qual os primeiros grupos humanos a povoarem o continente teriam chegado aqui há cerca de 13 mil anos.
Esse modelo já vinha sendo colocado em xeque por arqueólogos depois que escavações na América do Norte revelaram artefatos mais antigos que 13 mil anos. Nesses sítios, no entanto, a quantidade de objetos encontrados era muito pequena para servir de evidência.
Já no sítio arqueológico do Texas, a história foi outra: os quase 16 mil artefatos escavados comprovam que há 15,5 mil anos houve uma civilização que antecedeu a cultura Clóvis – como é conhecido o grupo até hoje considerado o primeiro a povoar as Américas.
Essa descoberta implica no fim do modelo de que a cultura Clóvis teria sido a primeira a chegar aqui e na necessidade de desenvolver um novo modelo para o povoamento das Américas”, avalia Michael Waters, do Departamento de Antropologia e Geografia da Universidade do Texas, nos Estados Unidos, e autor principal do Science.


Sítio arqueológico Debra L. Friedkin, no Texas (EUA), onde pesquisadores encontraram 15.528 artefatos datados de 15,5 mil anos atrás. (foto: Michael R. Waters)


Kit portátil
Os pesquisadores descreveram os 15.528 artefatos encontrados no complexo Buttermilk Creeck – próximo a Austin, capital do Texas –, no sítio arqueológico Debra L. Friedkin. Destes, 56 foram identificados como ferramentas e os demais, como resíduos do processo de lascamento da pedra para a fabricação dos instrumentos.
Os artefatos encontrados foram feitos de sílex, uma variedade do quartzo. Seus formatos variam de lâminas a bifaces, ferramentas de base quadrada ou arredondada que afinam na parte superior.
Artefatos escavados comprovam que povoamento na América começou pelo menos 2,5 mil anos antes do que se pensava. Feitos de sílex, uma variedade do quartzo, são pequenos e apresentam formatos variados. (foto: Michael R. Waters)

Alguns artefatos bifaciais indicam que o grupo estava fazendo pontas de projéteis e facas”, avalia Waters, em comunicado à imprensa. “Nós encontramos ainda ferramentas e lâminas usadas para o corte e raspagem.”
A maneira como os instrumentos da era pré-Clovis foram construídos assemelha-se à usada pela cultura Clóvis. Segundo os pesquisadores, isso mostra que a tecnologia mais antiga foi provavelmente adaptada – e aperfeiçoada – por esse segundo povo.
“Uma das principais diferenças entre as ferramentas dos dois períodos é o tamanho. Os artefatos pré-Clóvis são menores”, afirma Waters. A equipe sugere que eles teriam sido projetados como um conjunto de ferramentas portátil – algo que poderia ser facilmente empacotado e transferido de um lugar para outro.
“Nas camadas arqueológicas correspondentes ao período pré-Clóvis, também encontramos muitos objetos quebrados, que provavelmente foram usados para trabalhar osso e madeira”, complementa o pesquisador.
Os artefatos foram datados com o auxílio de uma técnica óptica que mede a quantidade de energia luminosa contida nos grãos de minerais como o quartzo. Com essa informação, indica a última vez em que estiveram expostos ao sol. No caso dessas ferramentas, a datação indicou 15 mil anos e meio atrás.
Durante escavações, pesquisadores encontraram ferramentas, lâminas e bifaces, além de resíduos do processo de lascamento da pedra para a fabricação dos instrumentos. (foto: Michael R. Waters)

Registros no sul
Waters explica que, de fato, a cultura Clóvis não poderia ter sido a primeira a povoar as Américas. Isso porque, 13 mil anos atrás, quando se pensava que o povoamento no continente havia começado, a América do Sul já abrigava outra cultura.
Objetos desse período foram identificados em pelo menos seis sítios arqueológicos na América do Sul e, nesses lugares, não havia tecnologia alguma da civilização Clóvis”, destaca o autor. Para ele e sua equipe, a civilização pré-Clóvis teria vindo do Nordeste da Ásia para o Novo Mundo, há 15 mil anos e meio, de barco. “As pessoas teriam atravessado o Estreito de Bering pelo mar, já que o corredor de gelo estava fechado nesse período. Essa é a única forma lógica pela qual elas podem ter viajado até os Estados Unidos”, conclui.

Publicado na Ciência Hoje On-line em 25/03/2011


Veja também:

Sítio arqueológico traz informações sobre os primeiros moradores da América

Crânio de 1ª brasileira Luzia tem feições de europeu e asiático

Por Reinaldo José Lopes
Editor de Ciência

Para quem estranhava o fato de os primeiros habitantes da América terem cara de africanos, e não de índios modernos, uma nova pesquisa diz ter resolvido o enigma. Esse seria o "modelo básico" dos seres humanos na época.
A pesquisa é assinada pelos brasileiros Mark Hubbe e Walter Neves, que há vários anos estudam o povo ao qual pertencia a célebre "Luzia", esqueleto da região de Lagoa Santa (MG) que é a mulher mais antiga do continente, com mais de 11 mil anos.
As reconstruções de Luzia com traços "negros" se tornaram famosas. Outras dezenas de crânios achados em Lagoa Santa, pouco mais recentes, também apresentam o mesmo formato, enquanto os indígenas mais próximos da época atual lembram povos do leste da Ásia.
Neves, da USP, e Hubbe, da Universidade Católica do Norte (Chile), compararam os crânios de Lagoa Santa e de outras regiões das Américas com idade semelhante aos encontrados em países europeus e na China no fim da Era do Gelo.
Eles também fizeram uma comparação com crânios modernos do mundo inteiro.
O resultado: independentemente da origem geográfica, os crânios antigos se parecem muito uns com os outros, mas são um bocado diferentes dos crânios atuais.
Os antropólogos propõem que isso acontece porque o formato "africanizado" do crânio é a morfologia original dos seres humanos modernos quando eles começaram a deixar a África e colonizar o planeta há uns 60 mil anos.
A expansão relativamente rápida teria levado gente com esses traços rumo à América. Isso ajudaria a explicar os traços africanos de Luzia e seus companheiros.
A pesquisa está na revista científica "American Journal of Physical Anthropology".

Publicado na Folha de São Paulo em 24/03/2011 - 11h12

quarta-feira, 23 de março de 2011

Rios estão em situação crítica em Minas

Por Paula Cabral de Menezes - do Jornal do Commercio 
A Bacia do Rio das Velhas, um dos maiores contribuintes do Rio São Francisco, recebeu investimentos de R$ 1,4 bilhão desde 2007, em projetos para melhorar a qualidade de suas águas. Ainda assim, sua situação é considerada crítica, se comparada ao ano anterior, segundo o Mapa da Qualidade das Águas 2010, divulgado ontem, Dia Mundial da Água. Em alguns pontos, os peixes voltaram, mas a carga de coliformes fecais e arsênio ainda existe. A situação é similar nas bacias dos rios Verde Grande e Paraopeba. Nesses locais, os índices violam os parâmetros por causa do esgotamento sanitário.
Em situação ruim estão as bacias dos rios Paraíba do Sul, São Francisco e Grande. A justificativa é a concentração urbana e a presença de atividade industrial. Por outro lado, a melhora das condições dos recursos hídricos foi observada nas bacias dos rios Itanhém, Jequitinhonha, Doce e Pardo. Na Bacia do Velhas, que recebeu grande parte dos investimentos do estado nos últimos quatro anos, a maioria das intervenções, segundo a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) ficou a cargo da Copasa, que finalizou as construções das estações de tratamento de esgoto em Belo Horizonte – Onça e Arrudas –, ampliou a rede coletora de efluentes e desenvolveu o programa de caça esgoto clandestino.
 
 
Mapa das Águas mostra que melhora é pequena: apesar da injeção de R$ 1,4 bi no Velhas, ele ainda sofre agressão
 
Em comparação com o ano anterior, o Mapa da Qualidade das Águas 2010 mostra que o Índice de Qualidade da Água (IQA) – que avalia em três classificações a contaminação dos recursos hídricos por causa de matéria orgânica e fecal, sólidos e nutrientes –, registrou aumento de 4% no IQA Médio, passando de 51,4% para 55,4%. A categoria Ruim sofreu queda de 4%, chegando a 22,1%, e o índice classificado como Bom permaneceu estável, em 21,2%.
Apesar de pouco expressiva, a melhora é tida como um grande passo no controle da contaminação nas bacias hidrográficas. As análises são feitas anualmente pelo Instituto Mineiro de Gestão das Águas, que integra o Sistema Estadual de Meio Ambiente (Sisema). Em 2010, as amostras da água foram coletadas em 522 estações de monitoramento, distribuídas em oito bacias. Segundo a subsecretária de Controle e Fiscalização Ambiental Integrada da Semad, Marília Melo, há comprometimento da água principalmente em regiões de adensamento populacional e presença de indústrias.
Neste caso, o indicador de qualidade das águas é a Contaminação por Tóxicos (CT), que acompanha a presença de metais pesados e 13 substâncias tóxicas, como arsênio chumbo, cobre, mercúrio e zinco. O estudo mostra que este nível se manteve baixo, apesar do aumento do Produto Interno Bruto (PIB), que gerou mais consumo e, portanto, mais produção de lixo e também de resíduos que podem afetar os rios.
“Fazemos o monitoramento desde 1997 e percebemos uma melhora geral. Há uma tendência do aumento de IQA Médio e a redução do índice Ruim. Na Contaminação por Tóxico, observamos uma preponderância do nível Baixo. Em 2010, trabalhamos com foco na Bacia do Velhas, por causa da concentração populacional, e já percebemos melhora. Como as metas do Mapa da Qualidade foram ampliadas para 2014, vamos continuar a remover matéria orgânica e nutrientes, ampliar o tratamento de esgoto dos municípios do entorno e articular com o setor produtivo para aprimorar o controle de efluentes industriais”, explicou.
A meta para o Rio das Velhas, que corta toda a RMBH, era torná-lo navegável e pronto para a pesca e o nado até 2010. De acordo com o coordenador do projeto Manuelzão, Thomaz Mata Machado, é possível afirmar que, apesar do atraso, 60% dos objetivos foram alcançados. “O programa foi desenvolvido pela universidade para o Rio das Velhas e nossa avaliação é positiva, com o biomonitoramento. Conseguimos reverter a dinâmica de poluir cada vez mais e trabalhamos numa cultura de recuperar os rios. Conseguimos perceber a presença de dourados, que, em 2000, só se encontrava a 200 quilômetros de Belo Horizonte. Hoje os peixes já estão em Lagoa Santa. Os ribeirinhos também dizem que perceberam melhoras no cheiro e coloração das águas”, afirmou o professor.

ETEs são fundamentais 
Apesar das pequenas melhoras no Rio das Velhas relatadas por ribeirinhos, as amostras colhidas indicaram a presença de coliformes termotolerantes e arsênio, em função dos afluentes localizados próximos a indústrias de tinturaria, siderurgia e mineração. Mata Machado alerta que Nova Lima, Sabará e Sete Lagoas estão “atrasados” porque não têm estação de tratamento de esgoto (ETE) nem projetos para resolver o problema. “Atualmente, 60% do esgoto de BH e Contagem são tratados, mas temos que chegar a um nível próximo de 100%”, acrescentou.
Coordenadora do projeto de revitalização do Velhas, Myriam Mousinho diz que duas ETEs entram em funcionamento ainda este ano: ETE Veneza, em Ribeirão das Neves, e ETE Pedro Leopoldo. Duas ainda estão em fase de implantação - Santa Luzia e Justinópolis, também em Ribeirão das Neves. (PS)

Audiência na Pampulha
 
A Câmara Municipal de BH promove amanhã, às 13h, audiência pública para debater o assoreamento da Lagoa da Pampulha. Qualquer cidadão pode participar. Em sua edição de ontem, o Estado de Minas mostrou que na última década foram investidos mais de R$ 220 milhões para recuperar o espelho d’água. Agora, a PBH anuncia investimentos de mais R$ 187 milhões para dragagem de dejetos e revitalização ambiental do reservatório. A Câmara fica na Avenida dos Andradas, 3.100, Bairro Santa Efigênia.

Publicado no Estado de Minas em 23/03/2011 06:49

segunda-feira, 21 de março de 2011

Recomendação do MPE impede retirada de vegetação na Serra da Gandarela

Por Luana Cruz

Uma recomendação do Ministério Público Estadual (MPE) tenta impedir a destruição da Serra da Gandarela, em Caeté, na Região Central de Minas. O local é considerado área prioritária para a conservação da Mata Atlântica e da biodiversidade. Com recomendação, o Instituto Estadual de Florestas (IEF) eliminou da pauta de avaliações cinco pedidos de autorização para retirada de vegetação na serra. As solicitações eram da mineradora Vale para implementação do projeto Apolo.

Povoado de Morro Vermelho, em Caeté. O projeto na Mina Apolo, na Serra do Gandarela, divide opiniões na região atingida.

Segundo o MPE, o projeto é um conjunto de estruturas operacionais para lavra, beneficiamento e transporte de minério de ferro. As intervenções da mineradora dividem opiniões de moradores e especialistas sobre os impactos ambientais. Se as autorizações fossem concedidas, impactariam uma área de aproximadamente 1.800 hectares na Serra do Gandarela. As autorizações causariam ainda impacto em áreas incluídas na proposta do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) para a criação do Parque Nacional do Gandarela. A região possui espécies da flora raras, endêmicas e ameaçadas de extinção.
Publicado no Estado de Minas em 21/03/2011 09:00


sexta-feira, 18 de março de 2011

Ancestral do homem demorou para dominar fogo, afirma estudo

Por Ricardo Bonalume Neto

Os ancestrais do homem passaram muito frio na Europa por centenas de milhares de anos por não saberem ainda controlar o fogo, argumentam dois pesquisadores. Eles concluíram que o uso habitual do fogo só começou entre 400 mil e 300 mil anos atrás – contrariando a hipótese tradicional de que fogueiras controladas teriam sido fundamentais para colonizar o continente quando os hominídeos deixaram sua terra de origem, a África.

 Os pesquisadores Wil Roebroeks, da Universidade de Leiden, Holanda, e Paola Villa, do Museu da Universidade do Colorado (EUA) , também lançam dúvidas sobre as alegações de que seres humanos já usavam fogo na África de modo regular desde 1,6 milhão de anos atrás. Essa inferência é a base da chamada hipótese do “macaco cozinheiro”, que liga o crescimento do cérebro humano ao combustível trazido pela comida cozida, considerada mais nutritiva.

“Nossos dados, com base em uma revisão de centenas de sítios europeus, sugerem que os antigos seres humanos foram capazes de sobreviver mesmo no clima mais frio da Europa sem o uso habitual de fogo”, diz Villa.

Reconstrução artística de neandertal feita pelo Museu Neandertal de Mettmann, na Alemanha

Foram checados 141 sítios arqueológicos com idades variando de 1,2 milhão a 35 mil anos, segundo os autores descrevem em artigo na revista científica “PNAS”. “As evidências de fogo vêm de cinzas e carvão, que são facilmente destruídos, mas também de ossos e artefatos de pedra queimados, que se preservam bem e são comuns em sítios arqueológicos”, afirma a pesquisadora italiana radicada nos EUA. Ela e seu colega lembram que, nos sítios da África Oriental com idades entre 2 milhões e 1 milhão de anos, há milhares de ossos e artefatos, e ficou claro que esses humanos primitivos comiam carne. “Mas não há nem ossos nem artefatos queimados”, afirma Villa.

Como explicar a longa sobrevivência na gelada Europa (a partir de 1 milhão de anos atrás) sem fogueiras? “Um estilo de vida muito ativo e uma dieta com muita proteína podem ter aumentado a taxa metabólica dos hominídeos como uma adaptação fisiológica ao frio. Embora o significado energético de cozinhar o alimento seja claro, o consumo de carne crua e de recursos aquáticos por caçadores-coletores é bem documentado”, escreveram os cientistas na “PNAS”.

Publicado na Folha de São Paulo em 15/03/2011 - 11h14

terça-feira, 1 de março de 2011

Criação de "Ibama mineiro" extingue IEF, Feam e Igam

Por Luiz Ribeiro 
Publicado no Estado de Minas em 01/03/2011 06:29
Enviado por Lucélio Nativo
 
O Sistema de Gestão Ambiental e Recursos Hídricos de Minas Gerais (Sisema) passará por uma mudança profunda. O governo do estado vai encaminhar nos próximos dias à Assembleia Legislativa projeto de lei que prevê a criação de um novo órgão, que vai absorver as atuais funções do Instituto Estadual de Florestas (IEF), do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) e Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam), que deverão ser extintos. A denominação do superórgão - que deverá acumular atribuições, como o Ibama em nível federal -, ainda não foi definida. Mas, por enquanto, está sendo chamado de Instituto Ambiental de Minas Gerais (Iamig).
A proposta de criação do instituto já vinha sendo discutida há vários dias pelo secretário de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), Adriano Magalhães, em reuniões com servidores dos órgãos envolvidos e ambientalistas. Nos encontros, Magalhães tem se esforçado para explicar os reais motivos e objetivos da proposta, visando conter possíveis reações contrárias às mudanças, principalmente no que se refere à extinção dos órgãos. A justificativa da secretaria é que as mudanças objetivam exclusivamente a eficiência na gestão, sem nenhum prejuízo para os servidores dos órgãos envolvidos ou para as políticas de preservação e fiscalização ambiental.
O sistema estadual de meio ambiente tem um orçamento de R$ 305 milhões previsto para 2011, sendo a maior parte para o IEF (R$ 111,08 milhões). A Semad tem uma previsão orçamentária de R$ 56,96 milhões, divididos entre a Feam (26,09 milhões) e o Igam (R$ 26,4 milhões). Outros R$ 84,2 milhões estão previstos para o Fundo de Recuperação, Proteção e Desenvolvimento Sustentável das Bacias Hidrográficas do Estado de Minas Gerais (Fhidro).
O Sisema soma 1,8 mil funcionários. Dos três órgãos que deverão ser extintos com a criação da novo sistema de gestão ambiental em Minas, além de ter maior orçamento, o IEF é o mais conhecido e com maior estrutura, reunindo cerca de 1 mil funcionários, 13 escritórios regionais, 47 núcleos ambientais e 150 escritórios locais (agências de atendimento) espalhados pelo interior. Grande parte da estrutura é montada em parceria com os municípios.
O IEF cuida de questões importantes, como a expedição de licenciamentos para desmatamentos e diversas atividades, como a fiscalização da produção e do transporte de carvão. No ano passado, o órgão foi alvo de denúncias de irregularidades, feitas contra seu ex-diretor geral, Humberto Candeias Cavalcanti. Em agosto, Cavalcanti chegou a ser preso, acusado de colaborar com esquemas de desmatamento ilegal para produção de carvão e desvios de recursos da autarquia, após investigação do Ministério Público Estadual, Secretaria de Estado da Fazenda e Polícia Militar. Ele ficou menos de 48 horas preso. Foi liberado depois de conseguir habeas corpus.
Durante as reuniões com representantes dos órgãos do sistema, o secretário Adriano Magalhães vem esclarecendo que a definição das equipes da nova estrutura terá como critério principal a competência técnica e a origem no próprio Sisema. ''O quadro de funcionários é composto por pessoas qualificadas e experientes e nada mais natural que utilizar essa equipe em todo o seu potencial'', afirmou.
As mudanças no Sisema começaram por meio de três leis delegadas (179, 180 e 181), editadas em janeiro e regulamentadas pelo Decreto 45.536 (27 de janeiro/2011), que deram novo formato à Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável. Foi criada a Subsecretaria de Controle e Fiscalização Integrada, que assumiu todas as funções relativas à fiscalização ambiental, de recursos hídricos, recursos florestais e biodiversidade e da pesca, que antes eram atribuições de diretorias específicas do IEF, da Feam e do Igam. A Semad também ganhou as subsecretarias de Inovação e Logística e de Gestão e Regularização Ambiental Integrada.
A extinção dos órgãos e todos os demais aspectos relativos ao projeto de lei vai depender das votações na Assembleia Legislativa, onde a proposta, após ser recebida em plenário, será encaminhada à Comissão de Constituição e Justiça e será apreciada pela Comissão de Meio Ambiente. Ouvido no fim da tarde de ontem, o presidente da Comissão de Meio Ambiente, deputado Célio Moreira (PSDB), disse que já ''ouviu falar'' da proposta de criação do novo órgão ambiental, mas que ainda não recebeu o projeto e por isso não iria comentar o assunto.
 

Sob pena diária de R$ 5 mil Cesp terá de preservar sítios arqueológicos/SP

Por Paula Vitorino
Publicado no Campo Grande News em 24/02/2011 
Enviado por Paulo C. Tamiazo 
 
Sítios arqueológicos de 7 mil anos estão ameaçados por falta de monitoramento e resgate histórico em áreas de hidrelétricas. Sob pena de multa diária de R$ 5 mil, a Companhia Energética de São Paulo (Cesp) terá de cumprir a sentença na qual foi condenada pela Justiça a fazer o constante monitoramento e resgate histórico das margens de três hidrelétricas no Rio Paraná, localizadas na divisa de Mato Grosso do Sul e São Paulo.

MPF/MS: Cesp descumpre sentença e ameaça sítios...
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A Cesp foi condenada em abril de 2010 a manter indefinidamente o programa de estudos e resgate arqueológicos na região das Usinas Sérgio Motta (Porto Primavera), Souza Dias (Jupiá) e Ilha Solteira, por tempo indeterminado, mas não cumpriu a sentença.
Para evitar a aplicação de multa diária a Cesp deve comprovar em 60 dias a continuidade do monitoramento. Os trabalhos só poderão terminar após análise de todos os locais atingidos pelas usinas. A decisão deve ser cumprida mesmo com o recurso já ajuizado pela Cesp.

Caso
Em 2001o MPF em Três Lagoas propôs um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) em que a Cesp se comprometeu a monitorar os sítios arqueológicos na usina Porto Primavera por dois anos. A empresa não cumpriu o acordo, tendo sido necessária execução judicial. 
O início efetivo dos trabalhos foi em janeiro de 2004, encerrando-se em dezembro de 2005. No mesmo anoo MPF recomendou que a Companhia prorrogasse os estudos por pelo menos mais dois anos e estendesse o monitoramento para as usinas de Jupiá e Ilha Solteira.
A recomendação não foi acatada, o que levou ao ajuizamento da ação na Justiça Federal. Decisão liminar de abril de 2006 determinou a retomada dos estudos mas a Cesp só a cumpriu a partir de setembro de 2007, interrompendo os trabalhos em outubro de 2009.
Desde outubro de 2009, os sítios arqueológicos de Três Lagoas estão sem qualquer monitoramento ou resgate, entregues à ação destrutiva da erosão, segundo o MPF.

Patrimônio
 Uma pesquisa da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) levantou a existência de 333 sítios arqueológicos na região de Três Lagoas, sendo pelo menos 169 na margem direita do Rio Paraná, em Mato Grosso do Sul.
Durante o trabalho, foram coletadas 80 mil amostras de valor histórico, entre pontas de lança, fragmentos de cerâmica e urnas funerárias, algumas datadas de sete mil anos. 
Os estudos antropológicos revelaram que a área foi habitada por caçadores coletores pré-históricos e povos indígenas.
De acordo com o MPF, uma significativa área arqueológica foi inundada pelos reservatórios das usinas de Jupiá e Ilha Solteira - que foram construídas na década de 1970, antes da exigência de estudos de impacto ambiental e, portanto, sem a preocupação de preservação do meio ambiente e do patrimônio cultural.
Esse patrimônio pode ser perdido com a erosão causada pelas usinas e a destruição das margens.

Minas, mineirês e mineirices vão virar livro

Modo típico de falar dos mineiros é objeto de pesquisa

Paulo Henrique Silva
Publicado no Hoje em Dia em 22/02/2011 - 07:54

Divulgação/Arquivo Pessoal
Sotaque celebrado em prosa e verso, o “mineirês” pode ter origem nas línguas africanas, após Minas Gerais receber um dos maiores contingentes de população negra escrava nos séculos XVIII e XIX. É o que aponta pesquisa de Patrícia Cunha Lacerda, pós-doutorada em linguística pela UFMG e professora da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).
O componente escravo foi importante na construção do dialeto mineiro. Apesar de todo o preconceito, não podemos apagar esses relatos históricos”, afirma Patrícia, que destaca a predominância africana em duas das três regiões “linguísticas” categorizadas pelo professor Mário Zágari no “Atlas Linguístico de Minas Gerais”.
Diferentemente do falar “paulista”, detectado no sul e no Triângulo e originário principalmente dos bandeirantes, os falares “mineiro” (Zona da Mata e Campo das Vertentes) e “baiano” (região norte) teriam maior influência dos milhares de negros traficados para o Estado, especialmente durante o auge da produção aurífera.
Em sua pesquisa, Patrícia se deteve no falar “mineiro”, reconhecendo em documentos de época (processos criminais, em sua maioria) os traços característicos da oralidade dos povos africanos, como a monotação do ditongo – dizer “oro” no lugar de “ouro” ou “cadera” ao invés de “cadeira”.
Por consequência do processo tardio de escolarização (a primeira escola de Juiz de Fora data de 1860), os escravos aprenderam a língua de forma irregular, impregnando traços da própria linguagem. “Como eram maioria, cerca de 60% da população, o português absorveu esses traços”.
Entre as principais características do falar mineiro estão ainda o alteamento da vogal pretônica (“mínino”) e a ditongação diante de sibilante (“treis”).
A pesquisa, que ganhará forma de livro, passa por uma continuação, analisando a parte morfossintática, detendo-se na estrutura da língua e suas particularidades. Patrícia destaca que, apesar de uma predominância africana, não se pode relevar a influência da imigração, como a italiana e a alemã, que se tornou importante mão-de-obra a partir do final do século XIX. O tema também deve merecer um livro em breve.

Menino é minino na capital
A participação africana na construção da fala não é ponto de consenso entre linguistas. “Afirmar que a principal influência veio da África é inadequado, porque implica uma simplificação grosseira: aceitar que todos os africanos falavam a mesma língua ou que não havia diferença entre as várias línguas faladas por africanos” – observa Jânia Ramos, professora da UFMG que prepara livro sobre o linguajar da capital mineira (“O Mineirês e a Fala dos Belo-horizontinos”).
Em sua pesquisa, Patrícia Lacerda defende que, “apesar da existência de vários povos com suas particularidades (...), eles mantinham afinidades linguísticas e culturais, podendo ser designados de forma comum no macro grupo dos bantos”.
Banto seria uma designação genérica, criada a partir de afinidades linguísticas e culturais.
Apesar dessa diferença de visões, Jânia e Patrícia seguem a mesmo divisão proposta por Mário Zágari. Em sua pesquisa, Jânia tenta responder a algumas questões, como o fato de os belo-horizontinos, quando entrevistados, reconhecerem o padrão mineiro como muito próximo do brasileiro, enquanto os não belo-horizontinos o percebem como um linguajar distante do padrão.
“Podemos até agora afirmar que os falantes nascidos na capital não usam o r caipira. Falam minino em lugar de menino. Recorrem, preferencialmente, ao tempo presente, em vez do imperativo – faz isso para mim e não faça isso para mim. Dizeme Nossa como interjeição. Esses traços não são, de fato, especificidades, porque outros brasileiros também os apresentam. A questão se coloca em termos de frequência e não de ocorrências em relação a outros”, registra.
Longe dos estudos acadêmicos, o procurador da República Felipe Peixoto Bragança Netto vem se dedicando ao tema em crônicas. Ele avisa que o sotaque das mineiras deveria ser ilegal, imoral ou engordar. “Porque, se tudo que é bom tem um desses horríveis efeitos colaterais, como é que o falar sensual e lindo (das mineiras) ficou de fora?”, pergunta ele.
Num texto que recebe, justamente, o título de “Sotaque mineiro: é ilegal, imoral ou engorda?”, publicado no livro “As coisas simpáticas da vida” (Landy Editora), Bragança Netto observa que os mineiros têm ódio mortal das palavras completas. Preferem, sabe-se lá por que, abandoná-las no meio do caminho (não dizem: pode parar, dizem: pó parar. Não dizem: onde eu estou?, dizem: ôndôtô?).
Ele destaca também que o aqui é “antecedente obrigatório, sob pena de punição pública, de qualquer frase. É mais usado, no entanto, quando você quer falar e não estão lhe dando muita atenção: é uma forma de dizer Olá, me escutem, por favor”.

A íntegra dessa crônica pode ser lida. Clique aqui!